Aurélio MIchiles: um artista de diversas linguagens
*Por Sávio Stoco e Thiago Bríglia
Topamos - eu e o amigo Thiago Bríglia - ir atrás de saber mais sobre o diretor de um documentário que tanto admirávamos de longe, O cineasta da selva (1997). Filme que nos encantava pela pesquisa e apresentação das imagens do arquivo de Silvino Santos que tanto nos diz sobre o passado da região onde moramos. Filme que nos inspira na mistura de ficção e documentário. Filme que conhecemos aos poucos pelos trechos que flagrávamos surpresos quando esporadicamente era exibido na TV Cultura e que só pudemos ver completamente quando lançado comercialmente em DVD, em 2009. Com a tarefa de entrevistar o diretor por conta da homenagem do NAVI/UFAM nesta V Mostra Amazônica do Filme Etnográfico, descobrimos muito mais: um artista interessado em diversas linguagens, atento para contradições do espaço amazônico, suas populações, comprometido com o tempo em que viveu e está vivendo. E ainda por cima, pela sua maneira aproximante de falar, deixando a produção audiovisual tangível, sem preocupações desnecessárias de auto-afirmação. Nada dessas coisas, que perpassam o conjunto da sua obra, estava tão claro como estará agora para os que tem a mesma idade dos primeiros documentários dele - como nós dois entrevistadores. Mesmo porque não havia formas acessíveis de conhecer seus filmes – como a V Mostra vai oferecer a muitos.
O CINEMA NA AMAZONIA & A AMAZONIA NO CINEMA*
Selda Vale da Costa**
“Entre o pitoresco e o dramático,
o cinema na Amazonia foi um ato de heroísmo”
Pedro Veriano, 2006.
A primeira sessão de cinema
Eldorado dos aventureiros, celeiro do mundo capitalista, inferno verde dos naturalistas e paraíso perdido dos poetas, a Amazônia foi cantada e decantada, romântica e cientificamente, por viajantes e estudiosos, por artistas e políticos de todas as épocas. Foi louvada, amaldiçoada e chorada em verso e prosa. Percorrida, penetrada, pisada e mal interpretada por “quadrilhas” de turistas. Todos vieram conhecer a Amazonia, seu grande rio e sua misteriosa floresta. E, logo, também, as luzes cinematográficas nela vieram refletir-se, tentando capturar seus segredos, mitos e almas.
A chegada do cinematógrafo a Manaus, entretanto, em 11 de abril de 1897, não rebuliçou a cidade, como era de se esperar. O novo invento dos irmãos Lumière passou quase despercebido. Ao ser-lhe atribuído o status de “arte nobre”, fazendo-o penetrar pelo recém-inaugurado templo cultural da elite manauara - o Teatro Amazonas - o cinema desencontrou-se de seu público predileto, as camadas populares, que lotavam as praças e cafés dos centros urbanos para ver o maravilhoso aparelho das “figuras que se mexem”. O local escolhido e os preços proibitivos afastaram o grande público para outros centros de diversões mais atrativos e menos dispendiosos. A elite que foi ao Teatro Amazonas tampouco se agradou daquele novo divertimento.